Ele não escolhe idade, região do corpo, classe social, sexo e ainda não está unicamente relacionado a alguns hábitos nefastos, como fumar, comer bobagens ou estar em permanente estresse. Conheci gente que nunca colocou um cigarro na boca e morreu de câncer de pulmão, um maratonista macrobiótico que teve câncer no estômago e uma monja que foi levada por esse mal. Mas fumar, comer tanta bobagem e viver no limite da insanidade criam, sim, um terreno propício para o desenvolvimento do câncer. Uma universidade francesa publicou um estudo neste ano que atesta uma incidência entre duas e três vezes maior de câncer em ratos que se alimentam de transgênicos : (milho, batata, tomate, canola, melão) . De acordo com estimativas da Organização Mundial da (OMS), 27 milhões de pessoas terão câncer em 2030.
Em alguns tipos, a prevenção para detectar a doença é bem simples; para o câncer de mama (52 mil casos esperados no Brasil até o fim de 2012), a mamografia anual; para o de próstata (mais de 60 mil neste ano), o exame de toque; para o de colo de útero (estimativa de 17,5 mil casos), o Papanicolau, e por aí vai. Quanto mais precoce for o diagnóstico, menores as chances de morrer.
Em vez de ficarmos sentados ante o alastramento epidêmico do câncer, podemos fazer minimamente a nossa parte, seja seguindo sem preguiça a agenda de exames preventivos, seja colaborando para entidades que se dedicam à pesquisa e ao tratamento da doença. Uma delas, o Instituto Desiderata, fez uma parceria com o grande cenógrafo Gringo Cardia para construir salas de quimioterapia infantil cuja decoração reproduz ludicamente o fundo do mar. São nelas que as crianças vítimas do câncer passam a maior parte de seus 18 penosos meses de tratamento. Em São Paulo, há a Quimioteca do Instituto de Oncologia, o GRAACC, com a mesma filosofia. E é comovente como a sociedade aderiu à campanha do Outubro Rosa de prevenção ao câncer de mama.
São muitas as iniciativas privadas de financiamento de pesquisas para prevenção, tratamento e cura do câncer. Mas, ao conversar com esses verdadeiros anjos que se dedicam a elas, todos reclamam da burocracia excessiva, da dificuldade em angariar recursos e da falta de estímulo das políticas oficiais de governo para as doações. Em alguns casos, paga-se até imposto sobre as doações.
Mas há ainda um outro impedimento, de teor mais sinistro. Se cada vez mais pesquisas estão ligando o câncer aos novos hábitos de alimentação e comportamento da sociedade nos últimos 50 anos, a quem não interessa que se façam campanhas contra eles? Quando os “males dos séculos” estavam restritos à infecção por ratos e pela falta de saneamento, não havia resistência em combatê-los. A revolução higiênica da sociedade ocidental conteve boa parte deles. Agora, quando eles mexem com poderosos interesses econômicos e industriais, a coisa ganha nuances que desafiam o próprio conceito de humanidade.
Até que se faça uma grande revolução cultural, comportamental e íntima, a cura do câncer estará bem longe do nosso alcance.
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