domingo, 18 de novembro de 2012

O segredo da longevidade : como alcançar ?

Irving, o corretor de ações mais velho do mundo, começou a trabalhar em Wall Street em 1928.

Ele se lembra bem mesmo é das tecnologias que surgiram de lá para cá. Conta como seu pai teve a sorte de entrar no ramo de lustres logo que “o senhor Edison abriu seu escritório no centro”. Sim, aquele Edison que trouxe a eletricidade a Manhattan, em 1882. Também se lembra com perfeita clareza de construir um rádio em seu quarto, por volta de 1920, e surpreender sua mãe, que pensava que música vinha somente de vitrolas.

Também é desnorteante para Irving essa nossa urgência indiscriminada de lembrar tudo. “Preferiria não saber quem era, quem conhecia e o que fiz”, diz. “Isso ocupa um espaço que preciso para hoje.” Por “hoje”, ele também quer dizer “no futuro”. Todas as conversas com Irving nos levam a suas previsões favoritas, tais como de que maneira as novas tecnologias podem afetar a viabilidade das companhias que seu escritório acompanha. “Não me preocupo em morrer”, diz. Ele supõe que isso acontecerá durante o sono. Preocupa-se em permanecer mentalmente ágil. É por isso que lê três jornais por dia e assiste à programação completa da C-Spans, um canal de TV sobre política. “Alguns colecionam selos, mas é pouco. É preciso ter múltiplos interesses.” Sua crença de que um futuro o aguarda (um futuro que não consigo imaginar para mim sem preocupações com doenças) é o mais impressionante em Irving Kahn. É fácil imaginar que, à medida que foi ficando velho, depois mais velho, e depois incrivelmente velho, ele teria mais motivos para se desesperar. É verdade que sua visão e sua audição não são mais o que eram. Ele não consegue mais caminhar tanto sozinho. Mas despreza essas limitações. Ou as ignora, ou encontra maneiras de superá-las. Com as perdas também é assim. A morte da mulher de Irving, em 1996, foi uma grande tristeza, diz o filho Tommy. Tommy também diz que Irving “afundou um pouco mais o pé no acelerador, se isso é possível”. Quando uma recente degeneração nos olhos fez com que Irving tivesse dificuldade para ler, ele aprendeu a aumentar o tamanho das letras naquilo que chama de Gimble, mas a gente conhece como Kindle.

Pelo fato de ele ser rico ajuda bastante, com enfermeiros dia e noite. Também ajuda ter sido sempre moderado, sem gostos extravagantes, como atestam sua camisa de gola pontuda e sua gravata marrom com estampas padronizadas. Ele se deita às 20 horas, levanta às 7 horas, toma vitaminas porque seus enfermeiros mandam. Desperdiça poucos gestos. Enquanto conversamos, as mãos permanecem elegantemente entrelaçadas sob a mesa.
Ainda assim, um homem com 106 anos que nunca teve uma doença com risco de morte, que não toma remédios para controlar colesterol ou pressão arterial e que se barbeia bem toda manhã (sem mencionar o “banho de bucha com vigorosos esfregões pelo corpo todo”), levanta certas questões. Quais são seus hábitos que o ajudam a ter uma vida longa e saudável? Há algo em sua atitude? Existem segredos em seus genes? Ele acha que não. E aqui me corta. Ele não está interessado em sua longevidade.
A alimentação saudável dos Khans era “carne de cordeiro num dia e bife bovino no outro” 
Mas os cientistas estão. Um boom de centenários está aparecendo na curva demográfica. Serão cerca de 4,2 milhões até 2050, só nos Estados Unidos. Companhias farmacêuticas e cientistas não medem esforços em suas pesquisas sobre longevidade. Grandes centros médicos constroem programas para satisfazer a demanda por informações e, consequentemente, por remédios. Irving concordou em doar sangue para pesquisas e em responder a perguntas do avô desses estudos, o Projeto de Genes da Longevidade, da Escola de Medicina Albert Einstein, no Bronx. Ele busca determinar se pessoas saudáveis em sua décima ou 11a década têm algo em comum. E se isso pode beneficiar outras pessoas. O que a pesquisa revelou até agora? Nada do que Irving realmente gostaria de saber, basicamente, se quem vive mais fica mais rico. 
Helen Kahn - 109 anos (Foto: Christopher Lane e arq. pessoal)Entre 1901 e 1910, Saul e Mamie Kahn – um vendedor de lustres e sua mulher – tiveram quatro filhos: duas meninas (Helen e Leonore) e dois meninos (Irving e Peter). Em 2001, quando Helen completou 100 anos, eles eram conhecidos como o quarteto de irmãos mais velho no mundo. O ousado gosto de Helen pela cerveja Budweiser fez dela uma pequena celebridade na web. Há cinco anos, ao se tornar centenário, Irving tocou o sino que abre o pregão na Bolsa de Valores de Nova York.

Os quatro irmãos Kahn participaram da pesquisa sobre longevidade da Escola de Medicina, iniciada pelo médico Nir Barzilai em 1998. Para esses estudos, Barzilai convocou um grupo de 540 pessoas acima dos 95 anos, como os Kahns, que haviam chegado lá sem nunca ter passado pelas quatro grandes doenças: as cardiovasculares, os cânceres, o diabetes e o declínio cognitivo. Sua teoria é que esses superidosos, como ele os chama, deveriam ter algo que os protegesse em qualquer condição. Caso contrário, se eles não tivessem tido um ataque do coração aos 78 anos, teriam sucumbido rapidamente ao próximo item da lista. Em vez de procurar por pedaços de DNA que se relacionam com a probabilidade de ter doenças, como se faz na maioria dos estudos genéticos, Barzilai procurou pelo oposto: genes que se relacionavam à probabilidade de não tê-las. Ou seja, à longevidade.

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